Tenho reparado, em mesas com amigos e nos stories do Instagram, que o papo sobre o tal do Oura Ring está cada vez mais presente. Monitoramento de sono, níveis de cortisol, picos de estresse, gráficos de variabilidade cardíaca…
É como receber um relatório em PDF toda manhã com a manchete: “Você falhou em ser humano hoje.” Dormiu 6h59? Alerta vermelho. Batimentos 3% acima do normal? Cuidado! Vai infartar! Virou um jogo onde ninguém ganha, mas todo mundo compra a próxima atualização.
Nossa ansiedade agora tem métricas. Não é mais só um acessório: é um chefe de plantão, um coach espiritual que grita: “Você não está fazendo o suficiente.” A produtividade não cabe mais no trabalho — ela invade até o travesseiro. Dormir virou um esporte de alto rendimento. Acordar, uma maratona.
Lembro que, quando era adolescente, tive um período de TOC (o tal Transtorno Obsessivo-Compulsivo). Muitas vezes, precisava checar se tranquei o carro 10 vezes, a porta 20 vezes, o computador 30 vezes… Agora a gente checa o “nível de estresse” 50 vezes por dia. Deus me livre, esse Oura Ring vai me dar uma nova compulsão: nossa compulsão por controle.
Mas sim, eu sou aquela pessoa que não toma mais café após as 15h porque arruina meu sono. Que sabe que um dia estressante não é “frescura” e que recuperação ativa existe. Que desmarca jantar e happy hour porque o dia seguinte será penoso.
Apesar de difícil, inclusive de tratar na terapia, há uma beleza na imprevisibilidade. Hoje, a gente acorda e, antes mesmo de tomar café, já está checando se dormiu “direito” no app. Cancelou o happy hour porque o relógio disse que seu “nível de estresse” está alto. E, no fim do dia, a única coisa que o Oura Ring realmente monitora… é a sua ansiedade.
Às vezes, dá vontade de descansar em paz — não em gráficos. Deixar o corpo ser só um corpo. Confesso que não sei o segredo do equilíbrio. Sou a pessoa que dorme às 21h junto com meu filho, mas passa noites rolando o Instagram e o TikTok até o dedo cansar.
Se alguém souber onde fica o botão “moderação”, me chama no privado.