A psicóloga Luciana Slaviero Pinheiro Cerdeira fala sobre a adolescência

20/07/2018 - 18:00 | Por: Circolare


Luciana Slaviero Pinheiro Cerdeira  é psicóloga, psicanalista, membro filiado do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e do Instituto Sedes Sapiente e, uma vez por mês, ela vai escrever aqui no Circolare sobre crianças, adolescentes e outros temas interessantes sobre nossa vida psíquica.

O segundo artigo de Luciana é sobre a adolescência, transição da infância para a vida adulta.

 “Vínculo com a Vida”

“A adolescência é um período marcado pela transição da infância para a vida adulta e é neste período que se intensifica o processo de escolhas e de responsabilização por elas, com repercussões na vida pessoal, afetiva e profissional.

O adolescente, em processo de amadurecimento e sedimentação da própria identidade, sente-se muitas vezes inseguro e vulnerável por se deparar com uma questão fundamental: “Quem sou eu?”.

A construção da identidade se dá desde a infância, ou melhor, desde o nascimento. Somos atravessados pelo desejo de nossos pais, o que é fundamental e vai nos constituindo como sujeitos. Aos poucos vamos diferenciando o que é nosso e o que é do outro. Esta é uma construção que tem muitos entrelaçamentos e sobreposições onde as fronteiras entre eu e o outro são cheias de nuances.

O encontro consigo mesmo não é solitário, inclui um relacionar-se com o outro e com o mundo e a articulação entre o desejo pessoal e o desejo do outro e entre o prazer e a realidade.

Este processo de auto-conhecimento é trabalhoso e muitas vezes angustiante, o que pode levar o jovem a buscar subterfúgio em “substâncias ou soluções mágicas”, que trazem consigo a perigosa ilusão de um caminho mais rápido, curto e com menor sofrimento. 

Embora exista atualmente uma preocupação em garantir que a formação dos jovens os capacite a entrar nas “melhores universidades do país” frente a  concorrência no mercado de trabalho, há um processo importantíssimo anterior e concomitante a preparação acadêmica e intelectual do jovem que deve ser acompanhado pelos pais e pela escola: a construção do “Projeto de Vida”, que tema corpo neste momento e dura uma vida toda, passando por re-significações e fornecendo uma base, um fio condutor, um caminho, uma direção.

Envolve um olhar para si mesmo e um questionar-se o tempo todo. Como eu sou? Com o que ou quem eu me identifico? Quais as minhas áreas de interesse e preferência? Que atividades me motivam, me satisfazem? Qual a minha maneira de ser e estar no mundo?

É um processo complexo e envolve diversos fatores. Além do auto-conhecimento, de estabelecer um objetivo que dê um sentido a vida e de pertencer a grupos de interesse, é especialmente importante que o jovem possa empenhar-se na concretização e viabilização de seus sonhos e orgulhar-se do próprio resultado. Isto tudo não acontece sem o exercício contínuo da resiliência, tolerância à frustração e determinação.

O viver em sociedade envolve constantemente uma série de negociações com desejos e prazeres pessoais, mas sabemos  que, quando gostamos do que estamos fazendo, nos dedicamos mais, investimos mais tempo e energia e nos é menos custoso solucionar problemas e dificuldades e enfrentar situações de turbulência emocional.

A possibilidade de viver experiências e encontros criativos e significativos traz um vínculo na relação com a vida, uma sensação de estar vivo e não apenas de sobreviver e é uma excelente vacina contra a sensação de vazio, a falta de vontade de viver e o uso de drogas. Sem isto, nossa capacidade criativa pode se tornar compactada levando a um sentimento de esvaziamento de espontaneidade e a um viver robotizado e o mundo passa a ser sentido apenas como algo a que se ajustar e se adaptar.

Como disse um aluno do 3o. ano do ensino médio: “é preciso algo que te puxe para você não se perder!”.

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