A jornalista Glória Maria foi a entrevistada do programa “Roda Viva” desta segunda-feira e, entre as perguntas, foi questionada se já passou por situações de racismo na carreira ou se a fama a blindou de tais ataques.
“Nada blinda preto de racismo, nada. E com mulher preta é pior ainda. Nós somos mais abandonadas e discriminadas, porque o homem preto não quer a mulher preta. Nada blinda a gente. Você tem que aprender a se blindar da dor, isso é importante. Se você for esperar uma proteção universal, você está perdida. Você tem que fazer com que a vida te faça aprender a se blindar”, disse a apresentadora.
Glória também contou que suas filhas já passaram por episódios de racismo na escola. Tanto Laura quanto Maria estudam em colégios de elite.
“O amigo disse que a cor da Laura era feia. Eu usei um grupo de mães para dizer o que tinha acontecido e que elas orientassem os filhos. Falei com o serviço da escola e eles interferiram. Melhorou, mas isso não é uma questão de melhorar, porque isso vem da criança, vem da família”, comentou.
Já Maria, foi chamada de “mamaca” em uma discussão, mas revidou imediatamente. “Ela foi na diretoria, eu fui no dia seguinte, falei com o diretor, eles tomaram uma atitude, o menino ficou suspenso. É o pior que o menino era amiguinho dela. Ele falou porque queria machucar. A maneira que ele tinha era ofender racialmente. Isso que eu acho uma coisa trágica, porque ele sabe que chamar de macaca é uma ofensa racial, ele foi ensinado a isso”, relatou.
A jornalista ainda contou que o fato de ser quem é, por si só, é um grande posicionamento no que diz respeito ao racismo. “Se muita gente hoje tá aí conseguindo falar sobre o racismo, é porque a Titia Glória tá aqui. Eu não tenho a pele mais clara, eu sou preta mesmo. Sou enquadrada naquela categoria preta. Então, eu acho que as pessoas primeiro têm que aprender de alma. O racismo está aí, existe e não vai acabar nem na geração cinco vezes depois da minha filha. A gente tem que aprender a usar a nossa alma, nossa inteligência, nossa cultura, para tentar acabar com ele da forma que a gente conseguir”.

