Desde que meus filhos nasceram, pelo fato de serem gêmeos de sexos opostos, nunca me preocupei com possíveis “comparações” que pudesse fazer entre eles, fato tão comum entre mães, especialmente de gêmeos de mesmo sexo. Sempre imaginei que fosse conseguir respeitar suas diferenças, já que toda pessoa é única, tal como as cartilhas da psicologia e da boa maternidade pregam. Ledo engano.
É bem verdade que sempre gostei e me orgulhei de mostrar que eram gêmeos, mas nunca tive latente o desejo de, por exemplo, vesti-los da mesma maneira, embora ache bem bonitinho e até arrisque fazê-lo de vez em quando.
Só que, com o passar dos anos, as peculiaridades comportamentais de cada um começaram a ficar mais evidentes, especialmente após os dois anos (o início da adolescência infantil). E minha rotina passou a ficar mais difícil, pois em muitos momentos sentia estar fora de controle, pois um único comando nem sempre funcionava para os dois.
A partir desta fase, quando “não!” e “eu quero!” começam a ser ditos com maior frequência, me vi desafiada e, quando as reações divergiam e eram contrárias às minhas ordens, acabava enaltecendo o irmão que fazia o “correto”: “sua irmã está comendo tudo, vai acabar antes de você, olha só! Come, filho!” ou “Seu irmão está indo se trocar para irmos passear, você vai querer ficar? Vamos passear com a mamãe também?!” sem considerar que, com este (meu) comportamento, estava estimulando a competição entre irmãos.
Apesar da imensa compaixão que sinto por mim mesma em momentos em que minha paciência é testada ao limite (e olha que sou paciente!), sei que minha conduta (só praticada em casos extremos, diga-se) não é saudável , seja pelo vínculo que acabo alimentando ter com cada um deles, seja pela relação que acabo estimulando terem entre si.
A verdade é que, elogiar o comportamento (ou habilidade) de um em detrimento da má-postura (ou inabilidade) do outro só acirra a rivalidade e insegurança dos filhos, pois a mensagem que pode ser captada pelas crianças é “você está sendo elogiada porque seu irmão está sendo criticado” e, de outra parte, “além de você estar errado, sua irmã está agindo melhor do que você”. Outras frases que estereotipam, do tipo “você é o esportista da família”, também são uma bomba para a auto-estima daquele que não foi elogiado, pois ele fatalmente se sentirá diminuído já que não foi eleito um ótimo atleta como o outro.
É difícil, né?! Às vezes dizemos frases com o simples objetivo de resolver uma situação imediata e acabamos correndo o imenso risco de plantar mágoas e discórdia nos corações das crianças. E isso não é (de)mérito apenas de pais de gêmeos, embora seja mais evidente nestes casos.
Com isso, embora não ajamos por mal, é necessária uma boa dose de policiamento e reflexão com relação ao modo que queremos “educar”, “corrigir” e “valorizar“ atitudes cotidianas de nossos filhos. Por mais óbvio que possa parecer, o fundamental é enaltecer cada um por suas qualidades e criticá-los por seus próprios defeitos, os quais subsistem independentemente da existência do outro. Reconhecê-los como são e ajudá-los a enfrentar suas dificuldades como seres únicos lhes dará segurança e armas para confrontar diversas dificuldades que a vida irá lhes impor, inclusive as comparações.

