Caçador de Vinhos

24/09/2021 - 18:47 | Por: Circolare


Vicente Jorge é conhecido como “Caçador de vinhos”, ele viaja o mundo procurando, provando e analisando rótulos, de novidades e apostas aos clássicos.

São 30 anos de carreira no mundo do vinho exercendo esse ofício. Tanto é que não consegue precisar, milimetricamente, tudo o que já viveu (e bebeu!), mas alguns números impressionam: já visitou cerca de 1.200 vinícolas em mais de 30 países. Não consegue dizer quantos vinhos já provou na vida, mas consegue dar dados mais precisos do que degustou na última década: 2.300 rótulos diferentes, por ano.

No currículo, ele que é publicitário por formação, guarda prêmios e condecorações como Comendador da “Commanderie du Bontemps” Bordeaux, Prud’homme de Saint Emilion, Hospitalier de Pomerol, Cavaleiro dos vinhos do Porto, Confrade de honra de Ribeira del Duero, Chevaliers du Taste Vin – Bourgogne, entre outros.

Quantos vinhos têm na sua adega?

Por muito tempo, mantive uma média de 600 garrafas, pois ganho muitos vinhos. Hoje, tenho cerca de 80 rótulos em casa e uns 120 no Enclos, em Saint Emilion, na França, que vou trazendo aos poucos. Como fico grande parte do tempo viajando, resolvi deixar a adega somente com vinhos especiais mesmo.

O que não pode faltar na sua adega? Preciosidades, compras que são bom custo benefício e os que são ótimos para o dia-a-dia…

Na minha adega não falta: Beaujolais Villages, Cotes Du Rhône, Bordeaux, Bourgogne brancos, amo Chablis! Sauvignon Blanc fresco chileno e alguns rosés da Provence. Não tenho mais vinhos com muito corpo, pesado, prefiro elegância!
Mas se for para dar uma dica de bons e baratos, procure por chilenos frescos de Sauvignon Blanc, Alentejanos, Malbecs argentinos e nacionais… Não adianta se aventurar em vinhos europeus e da Oceania baratos, não valem a pena.

Tomando como paralelo algo que acontece muito na gastronomia e alguns rótulos clichês: alta X baixa gastronomia, carne de primeira X carne de segunda, existem comparações assim assim no vinho? Deve ouvir “só o vinho caro é bom?”

Uso muito a frase “Não existe vinho bom ou ruim, o momento conta muito”, por mais clichê que pareça, é uma realidade. Detesto essas comparações que citou!

O pensamento deve ser “se só tenho grana para um vinho de 40 reais, esse vai ser meu melhor vinho!”. Quando puder gastar mais, vou comprar mais caro. Somos assim, o paladar é evolutivo, o gosto é evolutivo.

Hoje, o que vejo acontecer é uma vulgarização do consumo e não uma democratização. Ficar o tempo todo comparando, oferecendo vinho em lata como se fosse revolucionar o mercado, harmonizações com pipoca, cachorro-quente, coxinha… é uma forçação de barra desse novo mercado de vinho.

Tudo harmoniza, ou quase tudo, mas existem bebidas que combinam além da harmonização. Como, por exemplo, o acarajé é fantástico com Champagne, agora é o momento certo?! Já vi gente pedindo para tirar o coentro da moqueca para não conflitar com o vinho!

Acho que democratizar é não superfaturar, é selecionar e indicar coisas boas para cada tipo de bolso e não tentar “enfiar” vinho em todos os momentos de consumo. Canso de ver sugestões de harmonização de vinho e feijoada e, na hora H, o que vale é a caipirinha, cerveja ou coca Zero!